Fotos da Quinta-Feira 11/Dez


Confira as fotos da Quinta-Feira 11/Dez!

Os filmes exibidos na sala BNDES foram:

18h00 AS TRÊS BELDADES DE JOSEON

K-Action 2014

K-Action 2014 – Mostra de Cinema e Fotografia Interativa Coreana

e

20h30 ESCONDE-ESCONDE

Esconde-Esconde

K-Action 2014 – Mostra de Cinema e Fotografia Interativa Coreana

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Secreto e Excelente


   

Não Morra. Ou morra como uma lenda.”

Ryu-han é um agente secreto norte-coreano infiltrado em uma favela na Coréia do Sul. Já há dois anos fingindo ser deficiente mental, aguarda a sua grande missão, cujo objetivo deve ser a reunificação das duas Coréias. Essa missão tarda para chegar, e, no meio tempo, Min-su (nome verdadeiro Hae-rang) e Hae-jin, conhecidos de treinamento de Ryu-han no Norte, também são enviados a esse mesmo vilarejo.

Secreto e Excelente

K-Action 2014 – Mostra de Cinema e Fotografia Interativa Coreana

Enquanto isso acontece, Ryu-han, cujo nome falso é Dong-gu (que lembra a tradução literal de “Buraco do Cocô”, uma palavra bonitinha e infantilizada para outra mais forte e curta…), se afeiçoa cada vez mais aos habitantes do vilarejo. Ao mesmo tempo, tendo tido a educação que teve no Norte, se mostra ansioso para receber e cumprir um serviço à sua nação e, dessa forma, garantir a proteção à sua mãe.

Secreto e Excelente

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A premissa é interessante e quase boba, e é por isso mesmo que vale a pena conferir Secreto e Excelente. Exibido no Festival de Cannes na Semana de Crítica, o filme foi um sucesso nacional histórico e uma grande incógnita para a crítica ocidental.

Primeiro, vamos aos números, pois essa parte é mais fácil: Secreto e Excelente entrou no circuito comercial em uma quarta-feira, 5 de Junho de 2013. Até então, o recorde de bilheteria doméstica no dia de estreia era de “Os Ladrões” (The Thieves), que havia atraído 436.596 espectadores no ano anterior. Adivinha quantas pessoas foram ao cinema assistir a Secreto e Excelente no primeiro dia? 497.560! É um número surpreendente, mas ainda ficou atrás de Transformers 3, que em 2011 levou 544.995 sul-coreanos ao cinema na estreia. Mas no dia seguinte, 6 de Junho, “Memorial Day” na Coréia – feriado em memória aos homens e mulheres militares mortos na Guerra Civil (1950-53) – nada menos que 919.035 sul-coreanos foram assistir ao filme (novamente ultrapassando “Os Ladrões”, que no segundo dia fez 770.715 espectadores e um pouco atrás de Transformers 3, com 956.500 espectadores). Isso quer dizer que em apenas dois dias Secreto e Excelente excedeu 1 milhão de espectadores. Na verdade, esse número foi alcançado em 36 horas! Como se não bastasse, ainda nas primeiras 72 horas o filme foi assistido por 2 milhões de pessoas. Em 16 de Junho, 11 dias após a estreia, mais de 5 milhões de sul-coreanos haviam assistido a Secreto e Excelente nos cinemas.

Agora vem a parte complicada.

Por que?

Se existe algo que pode ser chamado de “coreanismo”, Secreto e Excelente tem. E quem não tem ou está acostumado demais com filmes ocidentais, vai ter alguma dificuldade para entender esse fenômeno.

Há elementos no filme que justificam tamanho sucesso de uma maneira mais fácil:

  1. o filme se baseia numa série de webtoon chamada “Covertness” em inglês (que traduzido quer dizer algo semelhante a “Dissimulação”, mas sem o sentido negativo) que já tinha recebido 40 milhões de cliques online.
Covertness

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2. Os três atores principais são grandes estrelas nacionais e estão excelentes mesmo em seus papéis, que circulam entre o cômico e dramático, algo muito difícil de ser realizado com eficiência.

Secreto e Excelente

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3. As cenas de ação são demais.

Secreto e Excelente

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4. Soo-hyun Kim, o protagonista Dong-gu (ou Ryu-Han), certamente tem atrativos… Vale a pena conferir.

Secreto e Excelente

K-Action 2014 – Mostra de Cinema e Fotografia Interativa Coreana

Mas o que causa certa revolta para alguns críticos estrangeiros é esse “coreanismo” mainstream que insiste em não deixar claro a qual gênero o filme pertence, se é comédia ou drama. O que eles chamam de excessivo romantismo, lealdade e honra, que beira o inflexível (é bom lembrar a situação atual da Coréia do Norte. Se um líder assim consegue se manter no poder ainda hoje, é porque, de alguma maneira, o povo coreano tem características culturais que de alguma forma permitem que essa situação se mantenha), que realmente são difíceis de compreender se você está inserido numa cultura que não cultiva esses valores da maneira que os asiáticos – e coreanos talvez um pouco mais – o fazem, é difícil mesmo de entender o fenômeno Secreto e Excelente  (alguns críticos até confundiram a lealdade e mania e proteger o amigo dos personagens principais com homossexualismo reprimido, que, na minha opinião, é um baita de um etnocentrismo inconsciente). Mas, talvez, exatamente por isso que o filme tenha sido um fenômeno comercial no mercado interno. Aqui, vale checar o texto de Alumni, que explica resumidamente as relações afetivas entre mais velhos e mais novos.

Secreto e Excelente

K-Action 2014 – Mostra de Cinema e Fotografia Interativa Coreana

Secreto e Excelente trata uma temática sob o ponto de vista interno de um problema nacional que preocupa gerações de coreanos há 61 anos: a separação de um povo extremamente homogêneo decorrente de um infortúnio externo resultado de uma briga que inicialmente nem era nacional. É triste que esses três personagens, jovens, tão coreanos quanto os coreanos do sul, de vida sofrida, tenham o destino que a história do filme lhes reserva. A história entreteu e emocionou os 6.959.083 sul-coreanos, na grande maioria jovens, que renderam 43.186.902 dólares ao filme, e que provavelmente entenderam muito bem e aceitaram os conflitos dos três personagens fictícios do Norte, da mesma faixa etária da maioria dos espectadores. O filme não explora questões políticas, mas na verdade, o espectador sul-coreano já tem toda essa reflexão em si mesmo, e no caso de Secreto e Excelente e Alumni, não deseja resolver algo atualmente insolúvel, apenas imaginar como será que estão seus vizinhos e parentes distantes de sua idade. A cultura é a mesma, mas ela leva a lugares e a comportamentos opostos. Esses dois filmes, altamente comerciais, são extensões comercializadas do pensamento da população no geral.

Secreto e Excelente

K-Action 2014 – Mostra de Cinema e Fotografia Interativa Coreana

É preciso entender esse sentimento para compreender a causa do fenômeno: um conjunto de elementos que deram certo na bilheteria nacional. Sim, alguns deles claramente puxam para o cômico-comercial, mas outros, como a escolha de uma locação fantasiosa que provavelmente não existe mais na Coréia do Sul e que se assemelha muito à Coréia antiga e à imagem que fazemos atualmente da Coréia do Norte, e muita ação fortemente calcada no tae-kwon-do dão um aspecto bem doméstico ao pseudogênero ação-comédia-sul-coreana.

Secreto e Excelente

K-Action 2014 – Mostra de Cinema e Fotografia Interativa Coreana

Alumni


 

Para quem gosta de filmes de ação mas está cansado dos atores americanos de sempre, Alumni é uma boa alternativa de entretenimento.

Inserido no contexto da nova tradição sul-coreana de treinar arduamente pequenas estrelas do K-Pop, Seung-hyun Choi, ou T.O.P. (sim, a voz grossa do Big Bang!), provavelmente já acostumado com o trabalho puxado, se adaptou bem a esse papel difícil, que demanda uma impassividade bem balanceada que não chega a causar distanciamento emocional e um bocado de habilidade para cenas de ação.

 

T.O.P machucou as mãos durante as filmagens, mas mesmo assim participou, na época, da turnê do Big Bang. Algo que seu protagonista de Alumni, Myung-Hoon, certamente faria. Ou seja, não haveria papel melhor no cinema para T.O.P.!

 

No final de semana de estreia (6 de Novembro de 2013) Alumni (1º lugar, com 126 mil espectadores) bateu a bilheteria dos filmes Thor (2º lugar com 75 mil espectadores), Laços de Sangue (3º lugar, com 34.400 espectadores) e Gravidade (4º posição, com 34.100 espectadores) na Coréia do Sul, atraindo principalmente vestibulandos que tiraram uma folga merecida dos estudos.

Mesmo com as gravações cheias de interrupções (Big Bang em turnê…), a história é redonda, as cenas de ação são bem executadas e todos os atores cumprem bem o seu papel.

 

O enredo se dá no contexto da espionagem norte-coreana na vizinha Coréia do Sul. O tratamento é um pouco exagerado sim (nunca vi um espião desertor. Na verdade, nunca conheci nenhum desertor norte-coreano nos meus três anos em Seul, apesar de ter muitos amigos que conheceram. Detalhe: ninguém era espião). Não é absurdo, mas claramente ficcionalizado. Serve mais para alimentar o mistério e masculinidade (no sentido heroico da palavra, ou seja, Myung-Hoon é um homem digno que não abandona sua missão) do protagonista do que para retratar alguma problemática atual na história da Coréia contemporânea. Não é essa a proposta. Mas, claro, não podemos ignorar a situação na península: é uma maneira de fazê-lo sim. Complicado, né?

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Mostra K-Pop de Cinema Coreano

K-Action 2014. Alumni (Commitment)

Um elemento especial chama a atenção e merece rubrica. É o sentido da palavra ‘oppa’, intraduzível, que exprime bem o sentimento da hierarquia e afeição dos coreanos.

Abaixo, um supletivo básico de verbetes para se relacionar com algum coreano. Lembrando que na Coréia, a palavra “amigo(a)” é usada apenas para duas pessoas da mesma idade, mas o sentimento fraternal de amizade é o que conta quando se utiliza qualquer uma das palavras abaixo. PS: Não tente chamar pessoas que mal conhece usando esse vocabulário. Ele só vale quando algum nível de relação minimamente próxima já está estabelecido.

  1. OPPA: como alguém do sexo feminino chama algum “amigo” do sexo masculino mais velho do que ela (pode ser só alguns meses) que pode ser um irmão, um primo ou um namorado (Lembra? Oppa Gangnam Style…)
Mostra K-Pop de Cinema Coreano

K-Action 2014. Alumni (Commitment)

  1. RYÓN: como alguém do sexo masculino chama algum “amigo” do sexo masculino mais velho que ele (pode ser só alguns meses) que pode ser um irmão, um primo ou um “amigo”.
  2. NUNNAH: como alguém do sexo masculino chama alguma “amiga” do sexo feminino mais velha do que ele (pode ser só alguns meses) que pode ser uma irmã, uma prima, uma “amiga” ou uma namorada.
  3. ONNI: como alguém do sexo feminino chama alguma “amiga” do sexo feminino mais velha que ela (pode ser só alguns meses) que pode ser uma irmã, uma prima ou uma “amiga”.
  4. DONGSAEN: como alguém mais velho de qualquer gênero chama um “amigo” ou “amiga” mais novo(a).

 

Parece complexo, mas uma vez que um relacionamento se inicia dessa maneira, fica tudo mais simples. Isso não é antigo. Ainda existe. Reina. Pode-se dizer que é um elemento que une a população que habita as duas Coreias. Quem assistiu “A Irmandade da Guerra” (recomendo!) vai entender isso um pouco melhor. E para compreender um pouquinho dos coreanos, essa é a base de tudo.

 

E Alumni se desenvolve com essa premissa. A Hye-In que Myung-Hoon conhece no Sul tem o mesmo nome que sua irmã Hye-In do Norte. E quando um coreano escuta em over Myung-Hoon lembrar a voz da irmã chamando-o por “oppa”, dá aquele aperto no coração…

Esconde-Esconde


 

Há rumores de acontecimentos estranhos nas redondezas. Posseiros estão se escondendo na casa das pessoas e secretamente vivendo nelas.”

Uma voz infantil feminina introduz um edifício caindo aos pedaços, personagens suspeitos e grosseiros… e um assassinato a sangue frio.

Esconde-Esconde é um suspense de baixo orçamento orquestrado com precisão pelo estreante Huh Jung. Seguindo a tendência do cinema comercial sul-coreano de investir em novos talentos, Huh Jung tem apenas 33 anos e já demonstra enorme talento para o gênero em questão.

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O que mais chama atenção para o filme é a brincadeira do título não apenas com os personagens – que, coitados, estão diante de um serial killer não identificado – mas com o espectador. Absurdos de verossimilhança na história perdem para a envolvente montagem do suspense e acabam convencendo e surpreendendo, já que a partir de determinado momento tudo pode acontecer.

Mesmo assim, o filme tem um pé psicológico forte na realidade social de cidades em rápido desenvolvimento ao tratar os medos mais sombrios que alguém pode desenvolver nesse contexto. Fobias, hipocondria, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, ganância pelo dinheiro, medo de ter sua privacidade invadida e observada, traições familiares, consequências da dependência das pessoas com a boa aparência física, com a beleza, com os bens materiais e o dinheiro, com a segurança complexa dos edifícios de classe alta…

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Como muitos bons filmes, Esconde-Esconde assume o politicamente incorreto ao desenhar pobres como gananciosos e ricos como amorosos, educados e generosos. Seria essa uma visão naturalista do diretor em relação ao ambiente urbano cada vez mais calcado na divisão física e social entre ricos e pobres?

Saberemos nos próximos filmes de Huh Jung.

Enquanto isso, vale a pena assistir a Esconde-Esconde até o fim. Uma surpresa aguarda.

As Três Beldades de Joseon


 

Logo de início, é fácil notar que “As Três Beldades de Joseon” é uma versão épica coreana de “As Panteras”. Talvez, exatamente por essa razão, o filme atraia a curiosidade de quem aprecia o gênero, pois a forma como essa inspiração se dá não deixa de ser inusitada.

As três atraentes caçadoras de recompensas, como o título anuncia, são: Jin-Ok (Ji-won Ha), Hong-dan (Ye-won Kang) e Ga-bi (Ga-in Son, estrela do K-Pop do grupo Brown Eyed Girls).

 

Jin-Ok, carismática e corajosa, cria armas e armadilhas inusitadas e tem habilidades para se disfarçar.

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Hong-Dan, uma “senhora” casada, tem como especialidade atirar punhais, fazer acrobacias e é fascinada pelo lucro. Odeia ser passada para trás.

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Ga-Bi, a caçula, é de poucas palavras: ataca primeiro e deixa as perguntas para o final.

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“As Três Beldades de Joseon” tem momentos bastante divertidos. A direção de arte, a fotografia, a montagem e o ritmo trabalham bem para a construção do gênero. À primeira vista, os pontos que mais chamam a atenção do público ocidental são os cenários e o figurino. Mas há outro ponto interessante, presente em diversos filmes coreanos contemporâneos: mesmo sendo um épico, em alguns momentos o filme não se leva muito a sério, apresentando uma digressão cômica num momento chave dramático ou de suspense. Em partes, isso é o resultado de se copiar tudo o que dá certo no mercado hollywoodiano, mas que acaba criando um cruzamento de gêneros típico do cinema asiático. Remotamente, lembra uma abordagem de filmes comerciais de animação norte-americanos, pois tem elementos acessíveis para agradar a todos. Para os ocidentais, isso se confunde com a linguagem televisiva, apesar de estruturalmente e narrativamente o filme não ir para esse lado. Marca do cinema moderno coreano, o drama às vezes se transforma em piada sem que o assunto seja banalizado. Isso é resultado de uma afirmação desses filmes comerciais de que são filmes para entreter, e não seguem à risca algum evento histórico. Nisso, pode-se dizer que existe uma leveza em relação ao assunto tratado e abre-se um respiro para não se levar o drama tão a sério.

Há elementos divertidos que permeiam a história, como a maneira como Jin-Ok auxilia Hong-Dan com seus problemas com a sogra, e a atuação de Sae-Byeok Song como o policial invasor Song. Também nota-se a preocupação do filme em apresentar personagens femininas como praticantes do gênero de ação e da aventura, e não como coadjuvantes passivas.

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No geral, “As Três Beldades de Joseon” é diversão na certa. Atrairá a atenção, principalmente dos jovens, do início ao fim.

Na Coréia, estreou em Janeiro de 2014 e fez 2,7 milhões de dólares na bilheteria nacional.