‘Coelho’


 

Um ‘Coelho’ – ou PaceMaker – em uma maratona é um atleta que marca o passo dos corredores de elite até a metade da corrida ou até os 30 km. É só nos pouco mais de 10 quilômetros finais que esses corredores concentram as energias para darem o famoso sprint.

Man-ho, o protagonista, é um “coelho” de corrida. Seu papel é fazer jovens atletas coreanos que despontam nas maratonas brilharem nas Olimpíadas de Londres. O filme é a reconstrução do sonho de Man-ho, não concretizado na juventude devido a fraturas e infortúnios.

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Se você corre, não pense que ‘Coelho’ é apenas um filme motivacional. Apesar do aguardado final em clima de “Carruagens de Fogo”, o tema principal é o drama de Man-hoo em superar problemas pessoais e físicos para ultrapassar limites e recuperar a auto estima. Suas motivações podem soar inverossímeis ou excessivamente dramáticas para o público cético, mas a partir do segundo terço do filme não deixam de ter apelo emotivo forte para quem conhece um pouco da cultura coreana.

Produzido com um orçamento alto e empregando muitos figurantes e extras, ‘Coelho’ trata um tema esportivo interessante e mostra dramas familiares por uma perspectiva coreana, mas decepciona com papéis exercidos por “atores” estrangeiros estereotipados (o que a indústria cinematográfica ocidental faz com os personagens de fisionomia asiática, o filme faz com um personagem negro), com uma narrativa que cansa e perde o fio da meada no desenvolvimento e um excessivo patriotismo que beira o inverossímil, causando desconforto no espectador. Involuntariamente, mostra um lado simplório do patriotismo ingênuo que talvez ainda seja forte no público mais velho. Talvez por essas gafes, não obteve sucesso nas bilheterias, prejudicando a carreira do diretor iniciante.

O interessante nessa obra é o alto nível de “coreanismo” de ‘Coelho’. A relação fraternal de Man-ho com seu irmão, de amizade com Ji-Won (a atriz Ah-Ra Koh) e de inimizades com Yoon-ki e Kyung-Soon revelam conflitos recorrentes de muitos coreanos na faixa etária dos 35 aos 50 anos. Nisso o filme chega a ter algum mérito e passa sim uma mensagem motivadora e positiva.

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Para alguns, ‘Coelho’ será um filme emocionante e inspirador, com a mensagem de: faça o que você gosta. Para outros, elementos micro da história vão incomodar tanto que o filme macro perderá o entretenimento que poderia oferecer.

As Três Beldades de Joseon


 

Logo de início, é fácil notar que “As Três Beldades de Joseon” é uma versão épica coreana de “As Panteras”. Talvez, exatamente por essa razão, o filme atraia a curiosidade de quem aprecia o gênero, pois a forma como essa inspiração se dá não deixa de ser inusitada.

As três atraentes caçadoras de recompensas, como o título anuncia, são: Jin-Ok (Ji-won Ha), Hong-dan (Ye-won Kang) e Ga-bi (Ga-in Son, estrela do K-Pop do grupo Brown Eyed Girls).

 

Jin-Ok, carismática e corajosa, cria armas e armadilhas inusitadas e tem habilidades para se disfarçar.

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Hong-Dan, uma “senhora” casada, tem como especialidade atirar punhais, fazer acrobacias e é fascinada pelo lucro. Odeia ser passada para trás.

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Ga-Bi, a caçula, é de poucas palavras: ataca primeiro e deixa as perguntas para o final.

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“As Três Beldades de Joseon” tem momentos bastante divertidos. A direção de arte, a fotografia, a montagem e o ritmo trabalham bem para a construção do gênero. À primeira vista, os pontos que mais chamam a atenção do público ocidental são os cenários e o figurino. Mas há outro ponto interessante, presente em diversos filmes coreanos contemporâneos: mesmo sendo um épico, em alguns momentos o filme não se leva muito a sério, apresentando uma digressão cômica num momento chave dramático ou de suspense. Em partes, isso é o resultado de se copiar tudo o que dá certo no mercado hollywoodiano, mas que acaba criando um cruzamento de gêneros típico do cinema asiático. Remotamente, lembra uma abordagem de filmes comerciais de animação norte-americanos, pois tem elementos acessíveis para agradar a todos. Para os ocidentais, isso se confunde com a linguagem televisiva, apesar de estruturalmente e narrativamente o filme não ir para esse lado. Marca do cinema moderno coreano, o drama às vezes se transforma em piada sem que o assunto seja banalizado. Isso é resultado de uma afirmação desses filmes comerciais de que são filmes para entreter, e não seguem à risca algum evento histórico. Nisso, pode-se dizer que existe uma leveza em relação ao assunto tratado e abre-se um respiro para não se levar o drama tão a sério.

Há elementos divertidos que permeiam a história, como a maneira como Jin-Ok auxilia Hong-Dan com seus problemas com a sogra, e a atuação de Sae-Byeok Song como o policial invasor Song. Também nota-se a preocupação do filme em apresentar personagens femininas como praticantes do gênero de ação e da aventura, e não como coadjuvantes passivas.

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No geral, “As Três Beldades de Joseon” é diversão na certa. Atrairá a atenção, principalmente dos jovens, do início ao fim.

Na Coréia, estreou em Janeiro de 2014 e fez 2,7 milhões de dólares na bilheteria nacional.

CURIOSIDADES DO CINEMA COMERCIAL COREANO


1992 – “Estória de Casamento” (Marriage Story) foi o primeiro filme que não recebeu financiamento governamental. Financiado pela Samsung, foi o quarto filme mais assistido nos cinemas entre 1990 e 1995.

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1999 – “Shiri” foi o primeiro filme coreano na história a vender mais de 2 milhões de ingressos. Ultrapassou “Titanic”, “The Matrix” e “Star Wars” nas bilheterias de cinema. Isso incentivou que outros filmes com orçamentos altos apostassem em temáticas coreanas. A partir de então, o cinema nacional passou a ocupar mais de 50% do mercado local e nunca mais andou para trás.

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2000 – “JSA” (Joint Security Area) ultrapassou a bilheteria de Shiri.

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2001 – “Amigo” (Friend) ultrapassou a bilheteria de JSA.

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2001 – A comédia romântica “A Minha Namorada é Louca” (My Sassy Girl) ultrapassou “O Senhor Dos Anéis” e “Harry Potter” (foi exibido nas salas de cinema simultaneamente). Foi o filme mais popular e mais exportado em toda a história do cinema coreano.

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2003 e 2004 – “684-Unidade de Combate” (Silmido, 2003), filme baseado em uma história real de uma missão secreta em 1970, e “A Irmandade da Guerra” (Taegukgi, 2004), uma história de dois irmãos na Guerra Civil Coreana, ultrapassaram 10 milhões de espectadores individualmente, o que corresponde a um quarto de toda a população sul coreana.

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Em 2001 a Miramax comprou os direitos de americanizar os remakes de “Minha Mulher é uma Gangster”. Outros filmes cujos direitos foram vendidos para o remake norte-americano são: “Il Mare” (“The Lake House”), “Oldboy”, “My Sassy Girl”, “Joint Security Area” e “Um Conto de Duas Irmãs” (“A Tale Of Two Sisters”). Este último foi vendido por 2 milhões de dólares, ultrapassando a marca de 1.75 milhões de “Infernal Affairs” (“Os Infiltrados”, de Martin Scorcese, baseado no filme de Hong Kong de Andrew Lau e Alan Mak).

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